segunda-feira, 21 de março de 2011

MULHER CRITERIOSA

Depois de um tempo soltando rajadas de ar pela boca com o objetivo de descansar, Prudente pergunta a mulher com a voz esbaforida:

- E então, como me saí?

- Médio.

- Só isso?!

- É o resultado que você mostrou.

- Droga!! De tanto que eu me esforcei.

- Poderia ter sido melhor.

- Ainda preciso melhorar muito!

- Tudo bem.

- Tudo bem nada. Vamos fazer de novo!

- E você aguenta?

- Acho que sim.

- Vamos lá. Primeira pergunta: Escolha a operação correta: 17(?)9 = 8.

.

Após mais um teste de QI respondido a duras penas por Prudente, ele pergunta:

- E o resultado agora quando deu?

- 116. "Inteligência acima da média".

- Iurruuu! To melhoranado!

- Mas ainda não está classificado. Você precisa está no nível "Inteligência muito acima da média" para isso! 

- Poxa, usar teste de QI como critério de namoro, não sei se é uma boa. Muito difícil. Eu amo você, isso não basta?

- Pra mim não!

- Ô mulher complicada.

- Não sou eu que sou complicada, você que é néscio.

- Eu sou o que?!

- Está vendo? Você ainda precisa estudar muito.

-Pff... Bom era o tempo que as mulheres só pensavam no dinheiro.

Moisés CouTo

quarta-feira, 16 de março de 2011

DEDICADO À QUEM ME DEIXOU


Quanto tu eras junto a mim, quão feliz eu era. Andávamos sempre unidos, não nos afastávamos um minuto sequer. Você era tão doce que nenhuma tarefa árdua exigia de mim, requisitava apenas uma única e sutil condição: A condição do bom tratamento. Você merecia muito mais do que isso, deveria ter exigido mais, talvez por não conseguir suprir maiores exigências eu podia me conformar de ter lhe perdido, mas dessa forma, do nada, por nenhum motivo eu não consigo entender a sua partida. Lembro-me de nós na praia, ao sabor do vento você e eu, despreocupados, sem cuidar da beleza um do outro. Beleza que você me deu, mas com sua partida não tenho mais. Isso mesmo, além de sorumbático e depressivo me deixastes ainda mais feio, como conseguistes? Como teve coragem de me abandonar depois de tudo que passamos juntos? Por que partistes? Responda-me! Não, não! Deixe meus pais e avós longe disso, a conversa é só entre nós. Pare com essa mania de colocar a culpa nos meus antecedentes, meu avô nem lhe conheceu. Volte pra mim, e te prometo cuidar melhor. Saudade amarga meu coração quando eu vejo nossas fotos juntos, minha garganta dói quando lembro de nós na mesma cama, meu ar falta quando lembro você em mim, quando estávamos em um só corpo, quando eu era o único homem a quem você pertenceu. Agora vivo triste! Olho para baixo e uma lágrima molha onde você, agora, gosta de estar, o chão. Saia das minhas pernas, de dentro de meus ouvidos e narinas, saia do meu púbis não te quero ai. Quero-te na minha cabeça, onde é teu verdadeiro lugar. Oh, meus cabelos, por que me abandonastes?  

Moisés CouTo

sexta-feira, 11 de março de 2011

MESQUINHO

Na turma da esquina o Epitácio, sem dúvidas, era o mais mesquinho. Contavam os amigos dele que dentre outras barbaridades de mesquinhez, Epitácio cortava ao meio os palitos de fósforo para economizar pela metade os gastos com as caixas, desligava a geladeira quando ia dormir, e etc. Já perto dos trinta anos e há mais de seis anos sem fornicar, Epitácio não via outra solução se não a de ter que pagar uma profissional do ramo para lhe matar a libido. Quando perguntou aos amigos vagabundos da esquina na qual frequentava diariamente, Epitácio quase que cai pra trás com o preço que as mulheres da vida estavam cobrando:

- 150 reais por uma noite de sexo?!

- O salário mínimo aumentou deve ser por causa disso!

- Eu prefiro fazer isso sozinho do que pagar pra outra pessoa fazer por mim.

Agora a turma de vagabundos da esquina entrava em mais um assunto, em mais uma conversa recheada de palavrões e gritos, murmúrio que perdurava por toda noite, irritando e perturbando o sono da vizinhança que era obrigada a ligar para a polícia, só assim para encerrar toda aquela zorra da madrugada. Epitácio ficou feliz quando Afonso expôs uma solução de baixo custo:

- Epitácio, seu sovina, tenho uma solução barata. Mulher a dez reais.

Depois de pensar muito, Epitácio resolveu ir ao lugar indicado pelo amigo que semanalmente buscava lá o prazer barato, arriscando a saúde.

.

Ao chegar no local desejado, Epitácio se aterrorizou, não pareciam gente, pareciam mais bichos. Mulheres de corpos esqueléticos olhando com desejo para os olhos de Epitácio, porém com olhar ardiloso, pois o que realmente desejavam era a pedra de crack que comprariam com o dinheiro do programa. Epitácio consumido de medo misturado com libido escolheu impetuosamente uma. A moça se aproximou desajeitada, abriu a porta do carro, sentou-se e olhou para Epitácio e falou apenas com o olhar: “Vamos?”. Após andarem cerca de 2km a caminho do motel, Epitácio já estava constrangido com aquela situação silenciosa  resolveu falar:

- Oi. Tudo bem?

A moça parecia tímida, apenas balançou a cabeça em sentido positivo. Epitácio insistiu no diálogo:

- Qual seu nome? 

E então, uma voz grave e aveludada saiu estrondosa como a corda “mi” de um contrabaixo, mesmo numa tentativa quase desesperada da “moça” falar em voz fina:

- Natasha.

Epitácio ficou branco, só agora resolveu olhar para as mãos grossa e o pomo de adão proeminente da “moça” e percebeu do erro que cometera. Tentou inventar uma desculpa na hora, mas agora o homem travestido de mulher já estava no carro e queria seu dinheiro.

- Acabo de lembrar de pegar meu filho na escola.

- Mas são 11h da noite, não me vem com essa!

- Escola de samba, Escola de alguma coisa, não sei, só sei que preciso ir.

- É assim? Agora que percebeu que eu sou um menina genérica você quer me deixar? Tudo bem, mas eu só saio se você me pagar cinco reais.

Epitácio, estava incrédulo, além de passar por aquela situação constrangedora ainda ia perder seu suado dinheirinho que ele odiava gastar. Ainda tentou arrumar mais desculpas, mas não teve jeito, o travesti exigiu e agora só saía com os cinco reais. Epitácio, avarento como é, não viu outra solução:

- Quanto é o programa?

- Dez reais.

- Então vamos fazer o programa! Porque eu não vou perder cinco reais assim de graça, perco dez, mas pelo menos eu usufruo alguma coisa.

E Epitácio se submeteu aquela sórdida situação. Sorte dele é que o pessoal da esquina nem sonha, mas se descobrirem que ele manteve relação sexual com um travesti, ninguém queira estar na pele do Epitácio.

Moisés C. CouTo

sexta-feira, 4 de março de 2011

CARNAVAL - MISSÃO: HAITI


Faltava uma semana para o carnaval e Adalberto vem com essa:


- Amor, precisamos conversar. Assunto sério.

- O que houve? – Disse Adalgiza, sua noiva.

- Fui chamado pelo exército, missão: Haiti. Sabe como aquele país tá né? Muita malária, algumas revoltas contra o governo, até mesmo contra o exército em missão de paz. Chegou um email hoje de manhã, fui chamado, não tenho escolha. Tenho que ir!

- Foi convocado por email? Mas nem o “Tiro de Guerra” você serviu homem, por que logo você?

- Eu também não sei! Tá muito estranho mesmo. Apenas fui chamado, não posso decepcioná-los.

Eles se abraçam. Lágrimas escorrem dos olhos castanhos de Adalgiza. Adalberto está sério e sereno, olha para o horizonte com a barriga pra dentro e o peito cheio de ar, como quem já estivesse em serviço. A responsabilidade de representar o país lá fora já o consome.

.

Segunda feira de carnaval. Euforia, alegria, satisfação, júbilo, bom-humor, contentamento, todos os sentimentos de felicidade tomam conta dos foliões, ao som de música baiana, fantasias, sorrisos, beijos, abraços muita bebida alcoólica. Quando de repente Adalgiza, que acabara de trocar muita saliva em um beijo com um homem de costas larga, avista Adalberto no meio de cinco homens fantasiados de soldados, camisas camufladas como a do exército brasileiro, porém com uma pequena diferença a frente da camisa está escrito com letras garrafais brancas: “Bloco: solados do álcool”. Adalberto vem cambaleante, a pálpebra do olho esquerdo está mais caída, a boca com um leve desvio para a direita, cabelo assanhado e todo seu corpo coberto de um pó branco, goma talvez. Mas Adalgiza, sua fiel companheira, não está ali pra atrapalhar a missão do noivo. “Ele está de serviço, está com a roupa do exército, esse pó branco deve ser para se camuflar ainda mais”, pensa ela. De repente Adalberto agarra uma mulata de cabelo volumoso, e taca-lhe um beijo de boca aberta. Adalgiza pensa, “Deve ser uma missão, essa deve ser uma espiã que de alguma maneira contribui para o tormento que vive o Haiti”. Quando Adalberto solta a mulata e gira a cabeça em direção a Adalgiza, ela se abaixa, não pode atrapalhar a missão do noivo, ela precisa sair dali sem que ele a veja, tudo para não estragar a missão. Ela agarra um loiro forte que está ao seu lado, e taca-lhe um beijo de mostrar a mucosa bucal dos dois e resolve sair de perto. “De maneira nenhuma, posso atrapalha a missão do Adalberto, o exército lhe chamou, e ele está cumprindo seu papel de servir e não atrapalhando o serviço do Adalberto, eu também estou servindo a pátria”.

.

Quarta feira de cinzas, Adalberto vai até a casa dela e depois de um longo abraço de saudade pergunta:

- Como foi o carnaval?

- Senti sua falta.

- Eu também.

- Como foi no Haiti?

- Serviço pesado, tive que fazer cada coisa pro bem daquele povo.

- Eu sei amor, eu sei!

Casaram quatro meses depois e viveram felizes para sempre!

Moisés C. CouTo