quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

BIQUINI

Dr. Ubaldo, médico renomado da cidade de Moscoró, e sua esposa a socialite Glória junto com as duas lindas e joviais filhas gêmeas univitelinas Karla e Kerla, e assim como toda a população da cidade grande, mudaram-se para a cidade-praia de Timbuara, para passar o verão. Meia hora de viajem e já estavam encontrando todos os parentes na casa de praia da família. Depois de espanarem a poeira, levarem as espreguiçadeiras para o alpendre e arrumarem toda a casa, decidiram ir almoçar na beira-mar, não houve tempo de preparar o almoço em casa. Iam em, cinco carros, os irmãos e sobrinhos do Dr. Ubaldo, até a senhora sua mãe e o seu pai com Alzheimer inseridos no comboio, estavam apenas esperando as filhas de Ubaldo que, como de costume, demoravam em vestir-se. O telhado do alpendre os protegia do causticante sol do meio-dia e o cheiro de protetor solar despertava o hiperatismo das crianças. Depois de longos 35 minutos de ansiedade chegaram as gêmeas. Karla, vestida com seu lindo biquíni azul piscina, vinha resmungando e cobrando uma atitude dos pais, pois a irmã estava vestida apenas de sutiã e calcinha. Dr. Ubaldo esbravejou:

- Kerla, tenha modos! Além de ainda não estar pronta, você me aparece vestida apenas disso na frente de todos?

A filha:
- Mas pai, estou pronta! Esta é a roupa que vou à praia hoje.

A família toda se espanta:
- Enlouqueceu! - Dizia a tia mais velha.

- Essa menina sempre foi exibida – cochichavam as cunhadas de Ubaldo.

- Como essa menina cresceu! - Dizia o irmão mais novo de Ubaldo com olhar de admiração ao corpaço da menina.

- Princesa! Sempre eu a amei. – pensava o primo da mesma idade.

- Isso é uma sem vergonhice – Gritava a ranzinza avó de Kerla.

- Cadê meu avião que estacionei na garagem?! Cadê meu avião?! – indagava o pai de Ubaldo esclerosado pelos oito anos de Alzheimer.

Kerla. Dava satisfação a todos:
- Mas gente, qual o problema? Não estou entendendo! Veja a roupa de Karla, minha irmã. É igual a minha! Parte de cima tapando os seios e a parte de baixo tapando as partes de baixo, ora. O que está à amostra do corpo de minha irmã, também está amostra em mim. Vejam.

- Mas minha filha – replicava a mãe – Karla está usando biquíni e você calcinha e sutiã. Ai minha nossa senhora!!

A mãe já imaginava o escândalo que ia dá nas páginas sociais, sua filha vestida apenas de calcinha e sutiã na praia. Não adiantava os argumentos de todos, Kerla estava decidida, biquíni de praia era igual à calcinha e sutiã. Seu pai trouxe a família de volta para Moscoró e levou Kerla para todos os seus renomados amigos psicólogos, psicanalistas, até para o psiquiatra, mas não obteve resultado, não teve quem tirasse aquela afirmação da cabeça da presunçosa menina. Sua mãe teve depressão, o resto da família rejeitou Kerla. Dr. Ubaldo não viu solução e levou Kerla para a porta do manicômio e perguntou:

- Filha, é sua última chance. Ainda estais com esse pensamento louco de ir à praia de calcinha e sutiã?

- Mas, papai é a mesma coisa de um biquíni. Compare um biquíni de um sutiã e calcinha, é a mesma coisa! - Falava Kerla com olhar elucidativo.

Dr. Ubaldo, decepcionado, não viu solução, internou sua filha querida no manicômio. 


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Dias depois, a família toda estava se divertindo na praia de Timbuara, aproveitando os últimos dias de verão e Dr. Ubaldo, sorumbático, pensava:

- Será que minha filha estará bem? Será que está com fome? Será que dão de comer direitinho? Tomara que aqueles loucos não façam nada com minha filhinha. Por que logo minha filhinha, a quem eu criei tão bem, agir assim? Onde foi que eu errei?!

Enquanto isso Karla, irmã gêmea, despertava a atenção de todos os marmanjos da praia lotada. Bronzeando-se nas areias quentes fazendo um topless, usando seu minúsculo biquíni azul que se escondia entre seus glúteos, assim como um fio-dental. E, para completar, deitada de bruços. 

Moisés C. CouTo

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

NINFOMANÍACA

Heráclito sempre foi assim, desde criança, rapaz trabalhador, um ótimo pintor, seu pai lhe ensinou muito bem. Quando se tornou homem, casou com Zilda e teve seus cinco filhos, não foi diferente, trabalhava pintando as casas dos bacanas. Ele trabalhava de domingo a domingo e, por causa disso, sua mulher reclamava:

- Já vai sair cliclinho? – era como ela o chamava. - Vem pra cama de novo.

Zilda era uma mulher direita, compreensível, fiel, não trabalhava fora de casa, respeitava demais o marido e fazia tudo o que ele pedia, porém Zilda tinha um defeito – se é que isso pode ser considerado um defeito – que Heráclito classificava como: “muito grande”, era viciada em sexo, tinha um furor uterino insaciável. Heráclito não aguentava tanta libido da mulher. Eram três, quatro vezes por dia de porta do quarto fechada, os filhos, ingênuos, não desconfiavam. Ele saía de casa cedinho, pra se ver livre daquela monstra que o sugava as forças. Quando trabalhava em casas altas e tinha que subir em escadas para pintar, suas pernas tremiam como uma “Toyota” velha. Certa vez, por causa da fraqueza que a mulher o proporcionava, Heráclito caiu de uma plataforma de 6 metros enquanto pintava um prédio na Av. Caraná, fraturou as duas pernas e passou dois meses sem trabalhar, como pintor, porque em casa tinha que trabalhar – e muito - com a mulher.

- Mas amor, estou incapaz. Reclamava ele já pálido.
- Fica quietinho que eu faço o trabalho só. Dizia Zilda com o olhar provocante.

Quando voltou ao trabalho, suas pernas bambeavam, sua vista escurecia, sua cabeça girava.   Heráclito não aguentava mais aquela rotina fatigante. Até que certo dia chegou pra ela e disse:

- Zilda, precisamos conversar!
- Vem pra cama então.
- Depois Zilda. Escute. Isso não está me fazendo bem, você tem que parar com esse vício. Isso me atrapalha no trabalho. A vida não é só isso. A vida também é amor, entre nós, entre nossos filhos!

Dizia Heráclito com o semblante sério.
Zilda olhava incrédula. Calada. Parecia concordar com o marido.

- Entendeu?

Zilda só fazia balançar a cabeça, timidamente, em sentido positivo.

Heráclito a abraçou fortemente e encerrando o assunto, que parecia ter deixado Zilda chateada, ele concluiu e pediu:

- Que bom amor. Que bom que você entendeu. Agora já que acabou o café, você poderia ir ao mercado me comprar um, e fazer aquele pretinho que só você sabe?

Zilda foi ao mercado. Comprou o café do marido. E enquanto esperava na fila do único caixa, viu Ricardo, jovem rapazinho que trabalhava nas entregas do estabelecimento. Ele a observava, dos pés a cabeça, com ar de desejo. Zilda, então, também comprou veneno pra matar rato e meia hora depois colocou no café de Heráclito. Não adiantava a conversa, nem o trabalho do marido, Zilda era uma mulher respeitadora, compreensível, prestativa, porém era mais ninfomaníaca do que qualquer outra coisa. 
Moisés C. CouTo

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

APROVEITE OS SONHOS

Roberval, homem de meia idade, nunca casou e morava sozinho desde a morte do pai viúvo 10 anos antes. Sempre dormia bem, que nem uma pedra, até que no meio de uma noite acordou assustado, algo raro, eram 2:47 da manhã, bexiga cheia e boca seca. Levantou-se foi ao banheiro, apertou o interruptor e a luz acendeu depois de um estalo. Fazia força para urinar e, devido a isso, liberava estrondosas flatulências que se potencializavam em virtude do silêncio da madrugada. Foi à cozinha, abriu a geladeira, apelidada de coco por ele mesmo, pois só havia água dentro e enquanto bebia água fria, olhou pra trás e viu seu tio avô que morrera havia 27 anos, ficou pálido, saiu correndo gritando e derrubando o criado mudo. Deitou-se na cama e foi pra debaixo dos cobertores como se eles lhe protegessem de alguma coisa.  Aquilo o deixou traumatizado e acordar no meio da madrugada se tornou uma constante. Todas as noites ele acordava e via pessoas passeando em sua casa, impossível, pois morava só. Gente morta, gente viva, pessoas que não encontrava havia tempos, todos atrás de conversa com o isolado e sorumbático Roberval. Até que certo dia, depois da rotina habitual de urinar enquanto liberava gases, foi à cozinha e enquanto degustava sua saborosa água mineral viu sua vizinha, vinte anos mais nova que ele, só de camisola transparente, e com os bicos dos seios encarando-o, olho a olho. Ele não aguentava mais aquela rotina fantasmagórica. Olhou nos olhos do rosto (dessa vez) da moça e ordenou que ela saísse e que avisasse aos outros seres imaginários de sua cabeça que nunca mais fossem visitar sua casa. A moça saiu correndo assustadíssima com a declaração do, agora, maluco e misantropo Roberval e não mais do coroa enxuto e sensual  que ela pensava. Derrubou tudo o que via pela frente, até o porta-retratos do falecido pai de Roberval o qual ele já tinha visto duas vezes tomando café em sua cozinha que mal água tinha. Quando a moça não conseguiu pular o muro de volta pra sua casa é que Roberval percebeu o que tinha feito. Nem a moça, nem ninguém, nem mais nenhum ser imaginário visitava sua casa e Roberval voltou a ser o homem solitário de sempre, e o que mais martelava sua cabeça é que quando tivesse oportunidade nunca deixaria de aproveitar um sonho, uma visão esquizofrênica ou a realidade, mesmo que ela pareça irreal, porém nunca mais Roberval teve uma oportunidade como aquela.

Moisés C. CouTo

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CABELOS

Eu nasci sem, mas logo eles se tornaram cheios, volumosos e modéstia a parte, lisos também, naturalmente, é bom que se diga isso nos dia de hoje. Mas pouco tempo passou e no início da juventude eles começaram a cair. E eu pergunto, por que caírem logo os cabelos da cabeça, de tantos que temos no nosso corpo? Logo o que mais ajuda na aparência. Por que não os do nariz, da sobrancelha ou, sei lá, os cílios? Está bem, eles têm uma grande funcionalidade no corpo. Então por que não caem os pelos pubianos? Dizem que eles servem pra absorver impacto na hora do ato sexual. Duvido muito, afinal nunca vi estudo publicado tratando da incidência de atrizes pornôs em clínicas ortopédicas reclamando de pubialgia ou pubeíte – pensando bem, isso daria uma boa tese de doutorado. Pra que servem os cabelos das pernas se não para enroscarem em qualquer coisa e nos causar dores horríveis? Estes sim que deveriam cair. Fica minha indignação. Ainda dá tempo Deus, pense bem, é só fazer um simples milagre, chamaremos de mutação genética e quem ainda tiver queda de cabelo não passará na seleção natural e esses organismos mais fracos entrarão em extinção e nunca mais existirão na face terrestre.

Moisés C. Couto

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Exercício para o VERÃO

Subjetivamente já iniciou-se o verão, afinal para a maioria, o verão é igual a férias. Então vai um ótimo texto do grande Luis Fernando Veríssimo, ensinado-nos a praticar o exercício certo durante esta estação.



Exercícios para o verão

Ninguém deve descuidar da sua forma física só porque é verão. Para aqueles que negligenciam o seu Cooper porque com este calor, definitivamente, não dá, surge agora um novo método de condicionamento físico desenvolvido pelo Dr. Beer Belly e caracterizado por um mínimo de movimentação com um máximo de aproveitamento. Qualquer pessoa pode usar o método Beer Belly, mesmo que jamais tenha feito um exercício na vida, e com alguns movimentos básicos, repetidos várias vezes ao dia, conservar o tônus muscular, a boadisposição e a alegria de viver. E — importante — tudo isto longe do sol, sem correrias ou suadouros.
De acordo com o método Beer Belly, você deve sentar firmemente diante de uma mesa de bar, respirar fundo, erguer o braço sobre a cabeça e, agitando o dedo indicador,dizer claramente: "Ei, garçom!" Na maioria dos casos você sentirá os benefícios desta flexão imediatamente, com a aproximação do garçom. Caso contrário, repita o movimento até obter o resultado desejado. Então, peça um chope bem gelado. Com o chope na sua frente, você está pronto para a segunda fase do exercício (ver nas figuras abaixo).



O movimento horizontal da mão em direção ao copo põe em ação 17 músculos essenciais, do pouco conhecido Tendão de Ágape (que tem íntimas ligações com o músculo cardíaco e alguma influência no baço e até meio aparentado com um dos pulmões) até o popular bíceps. Muito importante, neste movimento, é a posição do polegar (ou, no grego,Dedão) que deve formar um perfeito ângulo reto com a palma da mão até esta envolver a parte externa do copo. Para melhor aproveitamento, o copo deve estar gelado — e ao contrário de você —, suando muito. É desnecessário realçar a importância do Dedão na vida moderna. Nesta era tecnológica, onde tudo depende de apertar o botão certo, um Dedão desenvolvido pode significar até a sobrevivência do Ocidente como nós o conhecemos.
Este movimento deve ser repetido muitas vezes. Erga o copo na vertical até o braço e o antebraço formarem um V de Valium, ou um V bem largadão. Todo o controle nesta delicada operação, a mais importante do método Beer Belly, depende do pulso. O Dr. BeerBelly recomenda que, para evitar surpresas e o desperdício do precioso líquido, você treine antes com copos menores, como os de caipirinha, até firmar o pulso. O tríceps, os 32músculos do cotovelo e (não me pergunte como) o adutor da perna direita são os principaisbeneficiados nesta fase.
À medida que o copo se aproxima dos músculos faciais (que devem serdescontraídos proporcionalmente à aproximação do copo, passando de um meio sorriso deantecipação para um semibico de expectativa), vá girando o pulso lentamente, de maneira que o encontro da borda do copo com o músculo labial inferior se dê num ângulo nuncainferior a 82 graus, para evitar o fenômeno cientificamente chamado de espuma no nariz. Esta fase serve para desenvolver a sincronização motora, o quadríceps e os importantíssimos músculos da deglutição, sem os quais você e eu não conseguiríamos engolir nada e teríamos que nos submeter à alimentação intravenosa, com todos os riscos da agulha rombuda e da hepatite. Uma vez reposto o copo sobre a mesa, depois de repetidos os movimentos A, B e C, só que ao contrário, levante o outro braço e passe as costas da mão na boca para limpá-la. Desta maneira você exercita os músculos do outro lado. A seguir estale os lábios. Dizer "Aaahhh..." é opcional, segundo o Dr. Beer Belly.
E aguardemos o lançamento no Brasil do segundo livro do Dr. Beer Belly,
Colesterol é Vida!, publicado pouco antes da sua morte prematura no verão passado

Luis Fernando Veríssimo