segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O ADVOGADO MASOQUISTA

Max Pinto era um renomado advogado da cidade, devido ao alto cargo que ocupava era seu dever passar uma imagem de homem sério e disciplinado. Fazia questão de cumprimentar a todos, mostrar sua imponência e índole cartesiana. Mas o que ninguém sabia era que o destemido Max tinha suas aventuras amorosas corriqueiras. Não tinha medo de nada, minto, a única coisa que o fazia perder o sono era a possibilidade de seu lustroso nome estar envolvido na bandalheira alheia. Por isso, suas aventuras eram sempre discretas e prudentes. Certa noite, que parecia ser apenas mais uma das diversões de Max com uma mulher qualquer, mudou sua vida.

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Enxugando o suor com um lenço do paletó que o advogado usara na última audiência poucas horas atrás, a mulher não poupou elogios:

- Você foi ótimo!

Max Pinto riu jocosamente.

Enquanto arrumava a bolsa para ir embora a mulher deixou surgir um chicote. Max ficou curioso, percebendo, ela tratou de fazer a propaganda:

- É um dos meus instrumentos de trabalho. Quer experimentar?

Max Pinto, passou alguns longos segundos com aquele chicote na mão, alisando-o com uma devoção única o advogado imaginou aqueles fios de borracha chocando-se contra seu corpo, jorrando suor e até gotículas de sangue. Ela pergunta:

- Posso bater?

Max tenta responder que não, mas a ânsia de descobrir o novo está inexplicavelmente incorporada. Segura o cabo do chicote e bate contra a própria mão, pensa e não resiste:

- Bate uma vez.

Foi atendido. O som, a dor, o prazer. Não se contentou. Alguns minutos depois, todo o dorso de Max Pinto estava rubro como as bochechas da timidez juvenil. O que surpreendera o destemido é que sentia prazer com cada beijo do chicote em suas costas. Sentiu um prazer sublime e inédito.

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Após o episódio, toda a índole de Max estava prestes a sucumbir.Com desejo de apanhar cada vez maior, o advogado estava inquieto. No trabalho o rendimento caiu, o apetite diminuiu, humor mudado. Max Pinto estava inquieto.

Não aguentando de tanto desejo enrustido, decidiu pegar mais uma mulher da vida para sentir o prazer novamente. Passando na Avenida onde as rameiras costumavam ficar, Max Pinto convidou qualquer uma dando a ordem:

- Sobe na moto!

Apaixonado por sua moto. Max tinha prazer em sentir o vento quente lamber sua face, só que naquele momento, nada o satisfaria a não ser o masoquismo.

Chegando no mesmo quarto de motel onde dias atrás o advogado apanhara pela primeira vez, tinha pressa. Antes de tudo, ligou para a atendente do motel e pediu o tão desejado chicote. Ansioso, enquanto despia-se detalhou para a companheira da vez o que desejava. No primeiro momento a prostituta frustrou-se ao saber que não haveria a fornicação como imaginara, porém o advogado bem sucedido pagou antecipado e a companheira dos adúlteros se satisfez.

Quando lhe foi entregue, não conseguiu segurar o sorriso. Segurando o chicote envolto de uma borracha preta perdeu todo o pudor. Despiou-se, ajoelhou-se entregando o objeto pediu, sem pusilanimidade, para que a mulher batesse na suas costas nuas:

- Bate, com toda a sua força! – ordenou.

E teve o desejo atendido. Uma, duas, três... Max se deliciou com aquelas lambidas do chicote em seu dorso. Uivava de prazer. Enfim teve seu desejo realizado.

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Ao ir embora, Max Pinto guiava a moto apreensivo. Pensava na compostura, na índole que acabara de perder. Tinha medo de que todo o seu sucesso profissional evaporasse como espumas ao vento (Com licença, Fagner). Tinha certeza de que a mulher que estava na garupa da moto espalharia por toda a cidade o segredo do renomado advogado. E aquilo lhe martelava a cabeça: “O advogado que gosta de apanhar!”. Só pensava nas manchetes, nos comentários, nas fofocas, nas galhofas. “O advogado masoquista!”. Repetidas vezes aquilo o perturbava “O advogado que gosta de apanhar”. Então, na rodovia a mais de 130 quilômetros por hora, Max Pinto traçou o próprio destino, invadiu a contramão e bateu bem no meio dos faróis incandescentes e ardentes de um caminhão que vinha em direção contrária. Ali, deu seu último urro de dor e prazer, a prostituta morreu em silêncio.  

Moisés Couto