sexta-feira, 11 de março de 2011

MESQUINHO

Na turma da esquina o Epitácio, sem dúvidas, era o mais mesquinho. Contavam os amigos dele que dentre outras barbaridades de mesquinhez, Epitácio cortava ao meio os palitos de fósforo para economizar pela metade os gastos com as caixas, desligava a geladeira quando ia dormir, e etc. Já perto dos trinta anos e há mais de seis anos sem fornicar, Epitácio não via outra solução se não a de ter que pagar uma profissional do ramo para lhe matar a libido. Quando perguntou aos amigos vagabundos da esquina na qual frequentava diariamente, Epitácio quase que cai pra trás com o preço que as mulheres da vida estavam cobrando:

- 150 reais por uma noite de sexo?!

- O salário mínimo aumentou deve ser por causa disso!

- Eu prefiro fazer isso sozinho do que pagar pra outra pessoa fazer por mim.

Agora a turma de vagabundos da esquina entrava em mais um assunto, em mais uma conversa recheada de palavrões e gritos, murmúrio que perdurava por toda noite, irritando e perturbando o sono da vizinhança que era obrigada a ligar para a polícia, só assim para encerrar toda aquela zorra da madrugada. Epitácio ficou feliz quando Afonso expôs uma solução de baixo custo:

- Epitácio, seu sovina, tenho uma solução barata. Mulher a dez reais.

Depois de pensar muito, Epitácio resolveu ir ao lugar indicado pelo amigo que semanalmente buscava lá o prazer barato, arriscando a saúde.

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Ao chegar no local desejado, Epitácio se aterrorizou, não pareciam gente, pareciam mais bichos. Mulheres de corpos esqueléticos olhando com desejo para os olhos de Epitácio, porém com olhar ardiloso, pois o que realmente desejavam era a pedra de crack que comprariam com o dinheiro do programa. Epitácio consumido de medo misturado com libido escolheu impetuosamente uma. A moça se aproximou desajeitada, abriu a porta do carro, sentou-se e olhou para Epitácio e falou apenas com o olhar: “Vamos?”. Após andarem cerca de 2km a caminho do motel, Epitácio já estava constrangido com aquela situação silenciosa  resolveu falar:

- Oi. Tudo bem?

A moça parecia tímida, apenas balançou a cabeça em sentido positivo. Epitácio insistiu no diálogo:

- Qual seu nome? 

E então, uma voz grave e aveludada saiu estrondosa como a corda “mi” de um contrabaixo, mesmo numa tentativa quase desesperada da “moça” falar em voz fina:

- Natasha.

Epitácio ficou branco, só agora resolveu olhar para as mãos grossa e o pomo de adão proeminente da “moça” e percebeu do erro que cometera. Tentou inventar uma desculpa na hora, mas agora o homem travestido de mulher já estava no carro e queria seu dinheiro.

- Acabo de lembrar de pegar meu filho na escola.

- Mas são 11h da noite, não me vem com essa!

- Escola de samba, Escola de alguma coisa, não sei, só sei que preciso ir.

- É assim? Agora que percebeu que eu sou um menina genérica você quer me deixar? Tudo bem, mas eu só saio se você me pagar cinco reais.

Epitácio, estava incrédulo, além de passar por aquela situação constrangedora ainda ia perder seu suado dinheirinho que ele odiava gastar. Ainda tentou arrumar mais desculpas, mas não teve jeito, o travesti exigiu e agora só saía com os cinco reais. Epitácio, avarento como é, não viu outra solução:

- Quanto é o programa?

- Dez reais.

- Então vamos fazer o programa! Porque eu não vou perder cinco reais assim de graça, perco dez, mas pelo menos eu usufruo alguma coisa.

E Epitácio se submeteu aquela sórdida situação. Sorte dele é que o pessoal da esquina nem sonha, mas se descobrirem que ele manteve relação sexual com um travesti, ninguém queira estar na pele do Epitácio.

Moisés C. CouTo

Um comentário:

  1. Meu Deus!! Acho q ainda tá pra nascer um sovina como esse, creio eu! Barbaredade Tchê!! Oo

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