sexta-feira, 4 de março de 2011

CARNAVAL - MISSÃO: HAITI


Faltava uma semana para o carnaval e Adalberto vem com essa:


- Amor, precisamos conversar. Assunto sério.

- O que houve? – Disse Adalgiza, sua noiva.

- Fui chamado pelo exército, missão: Haiti. Sabe como aquele país tá né? Muita malária, algumas revoltas contra o governo, até mesmo contra o exército em missão de paz. Chegou um email hoje de manhã, fui chamado, não tenho escolha. Tenho que ir!

- Foi convocado por email? Mas nem o “Tiro de Guerra” você serviu homem, por que logo você?

- Eu também não sei! Tá muito estranho mesmo. Apenas fui chamado, não posso decepcioná-los.

Eles se abraçam. Lágrimas escorrem dos olhos castanhos de Adalgiza. Adalberto está sério e sereno, olha para o horizonte com a barriga pra dentro e o peito cheio de ar, como quem já estivesse em serviço. A responsabilidade de representar o país lá fora já o consome.

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Segunda feira de carnaval. Euforia, alegria, satisfação, júbilo, bom-humor, contentamento, todos os sentimentos de felicidade tomam conta dos foliões, ao som de música baiana, fantasias, sorrisos, beijos, abraços muita bebida alcoólica. Quando de repente Adalgiza, que acabara de trocar muita saliva em um beijo com um homem de costas larga, avista Adalberto no meio de cinco homens fantasiados de soldados, camisas camufladas como a do exército brasileiro, porém com uma pequena diferença a frente da camisa está escrito com letras garrafais brancas: “Bloco: solados do álcool”. Adalberto vem cambaleante, a pálpebra do olho esquerdo está mais caída, a boca com um leve desvio para a direita, cabelo assanhado e todo seu corpo coberto de um pó branco, goma talvez. Mas Adalgiza, sua fiel companheira, não está ali pra atrapalhar a missão do noivo. “Ele está de serviço, está com a roupa do exército, esse pó branco deve ser para se camuflar ainda mais”, pensa ela. De repente Adalberto agarra uma mulata de cabelo volumoso, e taca-lhe um beijo de boca aberta. Adalgiza pensa, “Deve ser uma missão, essa deve ser uma espiã que de alguma maneira contribui para o tormento que vive o Haiti”. Quando Adalberto solta a mulata e gira a cabeça em direção a Adalgiza, ela se abaixa, não pode atrapalhar a missão do noivo, ela precisa sair dali sem que ele a veja, tudo para não estragar a missão. Ela agarra um loiro forte que está ao seu lado, e taca-lhe um beijo de mostrar a mucosa bucal dos dois e resolve sair de perto. “De maneira nenhuma, posso atrapalha a missão do Adalberto, o exército lhe chamou, e ele está cumprindo seu papel de servir e não atrapalhando o serviço do Adalberto, eu também estou servindo a pátria”.

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Quarta feira de cinzas, Adalberto vai até a casa dela e depois de um longo abraço de saudade pergunta:

- Como foi o carnaval?

- Senti sua falta.

- Eu também.

- Como foi no Haiti?

- Serviço pesado, tive que fazer cada coisa pro bem daquele povo.

- Eu sei amor, eu sei!

Casaram quatro meses depois e viveram felizes para sempre!

Moisés C. CouTo

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