quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

NINFOMANÍACA

Heráclito sempre foi assim, desde criança, rapaz trabalhador, um ótimo pintor, seu pai lhe ensinou muito bem. Quando se tornou homem, casou com Zilda e teve seus cinco filhos, não foi diferente, trabalhava pintando as casas dos bacanas. Ele trabalhava de domingo a domingo e, por causa disso, sua mulher reclamava:

- Já vai sair cliclinho? – era como ela o chamava. - Vem pra cama de novo.

Zilda era uma mulher direita, compreensível, fiel, não trabalhava fora de casa, respeitava demais o marido e fazia tudo o que ele pedia, porém Zilda tinha um defeito – se é que isso pode ser considerado um defeito – que Heráclito classificava como: “muito grande”, era viciada em sexo, tinha um furor uterino insaciável. Heráclito não aguentava tanta libido da mulher. Eram três, quatro vezes por dia de porta do quarto fechada, os filhos, ingênuos, não desconfiavam. Ele saía de casa cedinho, pra se ver livre daquela monstra que o sugava as forças. Quando trabalhava em casas altas e tinha que subir em escadas para pintar, suas pernas tremiam como uma “Toyota” velha. Certa vez, por causa da fraqueza que a mulher o proporcionava, Heráclito caiu de uma plataforma de 6 metros enquanto pintava um prédio na Av. Caraná, fraturou as duas pernas e passou dois meses sem trabalhar, como pintor, porque em casa tinha que trabalhar – e muito - com a mulher.

- Mas amor, estou incapaz. Reclamava ele já pálido.
- Fica quietinho que eu faço o trabalho só. Dizia Zilda com o olhar provocante.

Quando voltou ao trabalho, suas pernas bambeavam, sua vista escurecia, sua cabeça girava.   Heráclito não aguentava mais aquela rotina fatigante. Até que certo dia chegou pra ela e disse:

- Zilda, precisamos conversar!
- Vem pra cama então.
- Depois Zilda. Escute. Isso não está me fazendo bem, você tem que parar com esse vício. Isso me atrapalha no trabalho. A vida não é só isso. A vida também é amor, entre nós, entre nossos filhos!

Dizia Heráclito com o semblante sério.
Zilda olhava incrédula. Calada. Parecia concordar com o marido.

- Entendeu?

Zilda só fazia balançar a cabeça, timidamente, em sentido positivo.

Heráclito a abraçou fortemente e encerrando o assunto, que parecia ter deixado Zilda chateada, ele concluiu e pediu:

- Que bom amor. Que bom que você entendeu. Agora já que acabou o café, você poderia ir ao mercado me comprar um, e fazer aquele pretinho que só você sabe?

Zilda foi ao mercado. Comprou o café do marido. E enquanto esperava na fila do único caixa, viu Ricardo, jovem rapazinho que trabalhava nas entregas do estabelecimento. Ele a observava, dos pés a cabeça, com ar de desejo. Zilda, então, também comprou veneno pra matar rato e meia hora depois colocou no café de Heráclito. Não adiantava a conversa, nem o trabalho do marido, Zilda era uma mulher respeitadora, compreensível, prestativa, porém era mais ninfomaníaca do que qualquer outra coisa. 
Moisés C. CouTo

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