quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

MOTIVO CONVINCENTE

Segunda- Feira. Júlio César voltou pra casa na hora esperada, tirou seu chaveiro do Botafogo ainda trincado pelo arremesso ao chão de raiva por mais uma derrota para o rival algoz no dia anterior. Abriu a porta sem rangido, tinha fome, salivava tanto que acontecia de escapar  algum líquido viscoso de sua boca fina. Foi à cozinha bebeu água morna abriu as panelas em cima do fogão. “Vazias” pensou, com ar de irritação. Abriu a porta de seu quarto esperando ver a cama arrumada, mas não foi o que viu, sua mulher completamente nua, de costas, mostrava o mais escuro de seu baixo ventre, Adilson Ricardo estava por baixo dela e de frente para a porta, foi o primeiro a ver Júlio César em pé, atônito. Arregalou os olhos, e sem falar nada deu dois tapinhas nas costas de Fernanda, que falou:

- Bate mais forte, safadão.

Adilson elevou os ombros, como quem necessitasse pedisse desculpa por ela ter dito aquilo. Fernanda percebeu algo de errado e olhou pra trás. Ela e Adilson Ricardo tinha perdido a hora, deve ter sido a confusão de adiantar ou atrasar - eu nunca sei - o relógio na noite anterior em virtude do fim do horário de verão.
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Enquanto Fernanda tentava inventar desculpa cabível naquele momento constrangedor, Adilson Ricardo vestia sua bermuda cinza e a camisa amassada do Flamengo ainda com cheiro de cerveja da comemoração na noite anterior, Júlio César buscou seu revólver calibre 38, que só usara uma certa vez pra intimidar um gato preto que ele e a mulher interpretara como ladrão. Enquanto apontava a arma em direção a cama onde os dois estavam, Júlio César pensou: “Quem vou matar?” E começou a articular de quem seria a culpa, por tudo aquilo acontecer. Pensou primeiro matar Adilson Ricardo, ele era o desconhecido que invadira sua casa, sua cama, invadira o corpo de sua mulher. Mas não, ele era um homem que apenas saciou o desejo de uma mulher que o despertou os instintos mais depravados. Mataria sua mulher, ela quem o traiu realmente, levou pra dentro de casa um homem pra fazer os deveres que era dele. Mas ela não tem culpa, pois é ele quem não comparece, qual foi a última vez que fez sexo com a esposa? Nem lembrava, ela buscou fora o que não tinha em casa a culpa era dele mesmo! Ele não fez o papel de homem, de marido. Júlio César apontou o revólver para a própria cabeça. Fernanda gritou um “Não faça isso” misturado com lágrimas de desespero, Adilson Ricardo falou que não era pra tanto, isso até já havia acontecido com ele próprio, ano passado. Júlio César permaneceu em silêncio por alguns segundos e se convenceu que aquilo não era o correto a se fazer. Em seguida falou:

- Vamos esquecer isso e resolver outras questões.

E sem titubear atirou na esposa bem no meio da testa. Adilson Ricardo ainda tentou sair correndo, mas levou dois tiros na nuca, distante milímetros um do outro. Com a chegada da polícia, os investigadores logo afirmaram o motivo dos homicídios: “Traição”. Mas Júlio César fazia questão de deixar tudo bem claro:

- Matei minha esposa por não ter feito meu almoço!

- E o homem, por que o matou?

- Odeio o Flamengo!

- Que barbaridade!

- Ser traído tudo bem, mas por um flamenguista?

O Investigador se convenceu.

- É verdade, que dureza!

Júlio César se arrependeu de não ter suicidado minutos antes, ainda tentou cometer o ato de covardia contra si próprio, mas já era tarde demais. Já estava algemado.

Moisés C. CouTo

2 comentários:

  1. EU ACHO PIOR QUANDO É PELO UM SÃAOPAULINO!!!
    KKKKKKKKKKK
    QUE ISSO MOSA FLAMENGUISTA É O CARA!!!
    KKKKKKKKKKK

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  2. Estou elaborando, com alguns amigos, um panfleto de contos, intitulado Panfletário Contista. Será distribuído gratuitamente, mas temos que arranjar fundos ou apoios. Se quiser participar, esteja convidado. Gostei desse conto. Um abraço, Mário Gerson - escritor.

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