sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CHANTAGEM EMOCIONAL

Dois agentes penitenciários do presídio federal de Mossoró-RN conversam antes de iniciarem o serviço:

- Viu quem chegou?

- Vi sim, chegou até sorrindo.

- Aqui ele pensa que vai continuar tendo moleza.

- Certeza. No último presídio que ele estava ainda comandava o tráfico todo.

- Eu vi na “veja”. Aqui em Mossoró a história é outra.

- Certeza.

Na hora do serviço, os agentes caminhavam no corredor de luz baixa onde dá acesso as celas mais seguras. De repente uma voz de sotaque carioca carregado chama um dos agentes:

- Ô amigão...

- Tá me achando com cara de garçom pra me chamar assim? Me chama de senhor.

- A parada é o seguinte: Tu quer quanto pra me liberar um celular?

Os dois não podiam se ver, a porta da cela de Fernandinho Beira-Mar é totalmente lacrada, ele identificou que tinha alguém na porta pelo som curto e grave do coturno do agente andando. O agente, firme, não estava disposto a aliviar para o detento mais perigoso do Brasil:

- Tá me achando com cara de vagabundo igual a você? Você comandava o tráfico dentro de outros presídios de segurança máxima, aqui em Mossoró a história é diferente. O traficante começou a usar suas técnicas de medo:

- Escuta aqui Aparício – informaram que só haveria dois agentes por perto da cela dele, o de voz fina e fanhosa era o Aparício - eu sei onde sua mulher trabalha e onde seus filhos estudam, ou me dá o celular ou vão tudo pro saco!

O agente permanecia destemido. O detendo investiu no sentimental:

- Eu sei que sua mãe está na UTI do Hospital Regional, libera um celular pra minha cela que eu libero grana pra ela ser transferida para o melhor hospital da capital.

Mas o agente Aparício não tirava da cabeça as orientações que recebeu em seu curso de formação, ele estava disposto a encerrar aquela vida boa de Fernandinho Beira-Mar que depois de matar e mandar matar muitas pessoas e ainda comandar o maior tráfico do país ainda o fazia de dentro dos presídios mais seguros do Brasil. Mas o detento sabia de tudo do agente Aparício e investiu na última tentativa:

- Tô sabendo que os times dessa cidade aqui são uns semi-amadores e estão numa draga danada. Não ganham nada faz tempo, não lotam o estádio e só fazem perder até dos timecos do interior do interior. E como o tráfico rende muito dinheiro, vou liberar uma fortuna pros dois, com certeza vão crescer, disputarão novamente a final, vão subir de divisão no nível nacional e a primeira coisa que vou fazer é derrubar aquilo que vocês chamam de “estádio” e construir um estádio de verdade pra cidade. E então?

- Qual operadora você quer?

- Qualquer uma.

- Pega o meu. Mais tarde eu trago um melhor, daqueles de quatro chips.

Moisés C. CouTo

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