Max Pinto era um renomado advogado da cidade, devido ao
alto cargo que ocupava era seu dever passar uma imagem de homem sério e
disciplinado. Fazia questão de cumprimentar a todos, mostrar sua imponência e
índole cartesiana. Mas o que ninguém sabia era que o destemido Max tinha suas
aventuras amorosas corriqueiras. Não tinha medo de nada, minto, a única coisa que o fazia perder o sono era a possibilidade de seu lustroso nome estar envolvido
na bandalheira alheia. Por isso, suas aventuras eram sempre discretas e prudentes. Certa noite, que parecia ser apenas mais uma das diversões
de Max com uma mulher qualquer, mudou sua vida.
.
Enxugando o suor com um lenço do paletó que o advogado usara na última audiência
poucas horas atrás, a mulher não poupou elogios:
- Você foi ótimo!
Max Pinto riu jocosamente.
Enquanto arrumava a bolsa para ir embora a mulher deixou
surgir um chicote. Max ficou curioso, percebendo, ela tratou de fazer a
propaganda:
- É um dos meus instrumentos de trabalho. Quer
experimentar?
Max Pinto, passou alguns longos segundos com aquele
chicote na mão, alisando-o com uma devoção única o advogado imaginou aqueles
fios de borracha chocando-se contra seu corpo, jorrando suor e até gotículas de
sangue. Ela pergunta:
- Posso bater?
Max tenta responder que não, mas a ânsia de descobrir o
novo está inexplicavelmente incorporada. Segura o cabo do chicote e bate contra a própria
mão, pensa e não resiste:
- Bate uma vez.
Foi atendido. O som, a dor, o prazer. Não se contentou. Alguns minutos depois, todo o dorso de
Max Pinto estava rubro como as bochechas da timidez juvenil. O que surpreendera o
destemido é que sentia prazer com cada beijo do chicote em suas
costas. Sentiu um prazer sublime e inédito.
.
Após o episódio, toda a índole de Max estava
prestes a sucumbir.Com desejo de apanhar cada vez maior, o advogado estava
inquieto. No trabalho o rendimento caiu, o apetite diminuiu, humor mudado. Max Pinto estava inquieto.
Não aguentando de tanto desejo enrustido, decidiu pegar mais
uma mulher da vida para sentir o prazer novamente. Passando na Avenida onde
as rameiras costumavam ficar, Max Pinto convidou qualquer uma dando a ordem:
- Sobe na moto!
Apaixonado por sua moto. Max tinha prazer em sentir o
vento quente lamber sua face, só que naquele momento, nada o satisfaria a não
ser o masoquismo.
Chegando no mesmo quarto de motel onde dias atrás o
advogado apanhara pela primeira vez, tinha pressa. Antes de tudo, ligou para a
atendente do motel e pediu o tão desejado chicote. Ansioso, enquanto despia-se detalhou
para a companheira da vez o que desejava. No primeiro momento a prostituta
frustrou-se ao saber que não haveria a fornicação como imaginara, porém o
advogado bem sucedido pagou antecipado e a companheira dos adúlteros se
satisfez.
Quando lhe foi entregue, não conseguiu segurar o sorriso. Segurando o chicote envolto de uma borracha preta perdeu todo o pudor. Despiou-se, ajoelhou-se entregando o objeto pediu, sem pusilanimidade,
para que a mulher batesse na suas costas nuas:
- Bate, com toda a sua força! – ordenou.
E teve o desejo atendido. Uma, duas, três... Max se
deliciou com aquelas lambidas do chicote em seu dorso. Uivava de prazer. Enfim teve
seu desejo realizado.
.
Ao ir embora, Max Pinto guiava a moto apreensivo. Pensava na compostura, na índole que acabara de perder. Tinha medo de que todo o seu
sucesso profissional evaporasse como espumas ao vento (Com licença, Fagner).
Tinha certeza de que a mulher que estava na garupa da moto espalharia por toda
a cidade o segredo do renomado advogado. E aquilo lhe martelava a cabeça: “O
advogado que gosta de apanhar!”. Só pensava nas manchetes, nos comentários, nas
fofocas, nas galhofas. “O advogado masoquista!”. Repetidas vezes aquilo
o perturbava “O advogado que gosta de apanhar”. Então, na rodovia a mais de 130
quilômetros por hora, Max Pinto traçou o próprio destino, invadiu a contramão e
bateu bem no meio dos faróis incandescentes e ardentes de um caminhão que vinha
em direção contrária. Ali, deu seu último urro de dor e prazer, a prostituta
morreu em silêncio.
Moisés Couto
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