sexta-feira, 21 de outubro de 2011

FIM DO MUNDO – FALHA

Era chegado o dia mais esperado do ano de 2012. O dia em que os cálculos ininteligíveis cravavam o fim da espécie humana. O mundo estava em caos, esperando pelo pior. Ao amanhecer tudo parecia tranquilo, a temperatura estava normal, até um pouco mais fresca. Mas a população ignorava as condições ambientais e só pensava no pior. Os bilionários do planeta já estavam indo para à lua. Como iam viver lá? Eu também não sei. Mas iam com a esperança de vida em seus corações aflitos. As avenidas de todas as cidades do mundo estavam iguais. Pareciam grandes formigueiros, a população no meio da rua, tribulação aflorada. Todos só pensavam em sentir o último prazer de suas vidas, por isso, as pessoas começaram a fazer tudo o que tinham vontade, e então, supermercados foram saqueados, lojas depredadas. Mortes e abraços caminham juntos nas ruas engarrafadas por astros imóveis. Houveram-se até estupros e relações homossexuais à luz do dia. Um funcionário de uma multinacional qualquer, cansado de trabalho escravo resolveu se vingar, depois de beijar uma linda mulher ainda saiu gritando: “Diz pro seu marido enfiar a empresa dele no **”. Uns aplaudiam outros choraram, outros nem ligaram. Enquanto isso as polícias militar e civil digladiavam entre si, exibindo suas armas, mas disparando apenas insultos. As igrejas estavam lotadas de seus fiéis corriqueiros e de visitas esperançosas por salvação, os arrependidos dos 45 minutos do segundo tempo. Velhos insanos gritavam em praça pública jargões que ninguém ouvia. Coisa do tipo: “Eu sabia que era hoje!” – acho que era isso, também não prestei atenção. No Senado a situação brigava com a oposição e vice-versa. Os humoristas aproveitavam o fim do mundo para fazer piadinhas do desespero dos outros sem temer processos judiciais subsequentes. Os artistas preferiram viajar para o primeiro mundo, afnal, fim dos tempos ao lado do relógio Big-Ben, Torre Eiffel, ou Estátua da Liberdade seria elegante, mais semelhante com os filmes de Hollywood. Os viciados da cracolândia fizeram o de sempre, consumiram toda a droga possível, como se fosse o último dia de suas vidas. Nos hospitais públicos, não havia mais pacientes, todos queriam morrer em casa longe daquele inferno pré-morte. E assim, cada tribo fazia o que sempre almejou.

Contudo, o dia passou e o mundo não acabou.  E no dia seguinte todos foram trabalhar com a vergonha que lhes forçavam o cabisbaixismo, ninguém tinha coragem de olhar nos olhos do outro. E o funcionário da multinacional, pai de família da classe média baixa com três filhos pra criar, ainda foi chamado na sala do presidente da empresa e pensou: “É o fim do mundo!”.

Moisés CouTo

Nenhum comentário:

Postar um comentário