terça-feira, 12 de abril de 2011

CARAMELO UM, DOIS, TRÊS

O Zé Irinaldo era um homem de conversas mirabolantes. Histórias loucas saiam de sua boca e ninguém acreditava. Já contara que foi pesquisador de nanotecnologia, chefe de estado na Mongolia, jardineiro da princesa Diana, etc. Mas sua última história com certeza foi a que mais me intrigou. O Zé contou que esteve na Guiana Francesa e visitou a tribo dos Namandauê. Era uma tribo composta de homens de cor parda com cara de índio. Na reunião depois de sacrificar mais um bagre, como de costume, deram inicio a pauta do dia. O mestre dos Namandauê, o patriarca Chinlê Abaulêh, disse que teve mais um sonho que viria a se tornar real. Depois de sonhar com o 11 de setembro, e com as tsunamis o Chinlê Abaulêh sonhara como seria o fim do mundo. Todos estavam atentos na história o Zé Irinaldo que, de repente, calou-se. Acendeu um cigarro e disse que era sigilo o que soube naquela reunião na Guiana Francesa. Quando a turma curiosa insistiu, o Zé apenas destacou que quando perguntassem a qualquer um de nós qual era a senha, deveríamos responder sem titubear: “Caramelo um, dois três”. A turma toda caiu em gargalhada, o Almeidão teve até falta de ar e foi preciso chamar a SAMU. Depois desse dia o Zé Irinaldo se tornou mais sorumbático, não nos contava mais histórias, mas ele não parecia sem inspiração. Certa vez, quando perguntado por que acabara com as histórias, nos contou que o patriarca Chinlê Abaulêh foi até sua casa e ordenou que ele parasse de contar ensinamentos aos jovens. E todos, mais uma vez, zombaram da cara do Zé Irinaldo, eu também não resisti e fiz o mesmo. Mas na hora de dormir, toda aquela história de fim do mundo e senha não saía da minha cabeça. Até que adormeci e sonhei que estava nos Andes peruanos, só eu e o Chinlê Abaulêh sentados no cume de uma montanha, com vários condores sobrevoando nossas cabeças. No sonho o patriarca Abaulêh me alertara com voz mansa a senha que era pra ser dita quando os inimigos chegassem: “Caramelho uno, dós, três! Tienes que decir para los enemigos”. O sotaque portenho só aumentou o clima tenso daquela visão. Acordei assustado, apreensivo. Na manhã seguinte estava com a senha na ponta da língua para caso os inimigos me perguntassem. Enquanto caminhava no centro da cidade, um homem de barba branca que de tão enorme ia até o umbigo estava pedindo esmola, quando me aproximei ele me olhou estranho, sua sobrancelha tentava inutilmente esconder seus olhos azuis e com uma voz rouca ele perguntou:

- Qual a senha?

- Caramelo um, dois, três!! – gritei.

Todos no centro da cidade pararam e olharam em minha direção com sorrisos marotos em seus rostos, inclusive o mendigo. Até que uma mulher magra de cabelo cacheado se aproximou e disse:

- Calma, filho. O guerreiro Zé Irinaldo eliminou todos os inimigos, o mundo não vai mais acabar  estamos sãos e salvos. Essa senha já pode ser esquecida, agora o mundo está em paz graças ao grande guerreiro Zé.

Depois que a mulher se calou, o mendigo - que estava só tirando onda com minha cara -  puxou o grito:

 - Viva o guerreiro Zé Irinaldo, que nos salvou a vida!!

E todos responderam em um só coro:

- Viva!

A única coisa que vinha na minha cabeça era: “A turma não vai acreditar nisso”. 

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Esta é uma história real. Exceto a parte de chamar a SAMU pra socorrer o Almeidão, na realidade foi apenas uma dispneia passageira.

Moisés CouTo

Um comentário:

  1. Moisés divulgue esse blog: www.revitalizemossoro.blogspot.com Valeu!
    Estava desativado, agora vou voltar a postar matérias sobre pilates, fisio neurológica, comunitária e geriátrica.

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