sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

AMOR PLATÔNICO

Amor platônico era o que Gibraltar sentia por Fátima Bernardes. Todo dia às oito e quinze da noite lá estava ele sentado no sofá esperando começar o Jornal Nacional. Ele não perdia um dia sequer.

Boa noite. “Boa noite”. Gibraltar respondia no pensamento, sua mulher estava ao lado, não podia nem sonhar naquela admiração do marido para com a jornalista. Enquanto Willian Bonner falava, Gibraltar pensava:

Em Brasília o ministro da educação viabilizou uma série... “O que esse cara tem que eu não tenho? O meu grisalho é até maior do que o dele. Sou apenas um ano mais velho, sou mais experiente, Fatinha. Essa voz aveludada só pode ser forçada, ele não fala com ela sempre assim, ou será que fala? Eu também posso me esforçar e falar”.

Fátima. Obrigado Heraldo. No Rio de Janeiro as chuvas continuam castigando a região... “Linda, maravilhosa, te amo, quando vamos nos conhecer? Vou te fazer feliz minha deusa”. E os lábios de Gibraltar, inconscientemente, se uniam em um bico apontado para Fátima Bernardes até que:

- O que é isso Gibraltar Ferreira?! – Indagou sua esposa, furibunda.

E Gibraltar, assim como todo homem, criou um desculpa na hora, depois de fazer a pergunta básica para ganhar tempo:

- O quê? Ah isso? – Vesgo, Gibraltar olhava para o bico que criara com a própria boca – Tô com uma coceira no septo, tô coçando com os lábios, qual é o problema?

E Gibraltar teve que ficar todo o resto do jornal fazendo aquele trejeito ridículo. “Tudo isso por você Fatinha, isso é só uma gota d’agua do que eu posso te oferecer”. Quando acabou o jornal Gibraltar foi para seu quarto desconsolado, acabou mais um dia de namoro com sua deusa. Sua esposa permanecia na sala para ver a novela e Gibraltar ia pro quarto sozinho com a cabeça na musa inspiradora. Dormia pensando nela, tentando sonhar com sua diva.

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03h25min da manhã o telefone toca no criado mudo vizinho a cama, Gibraltar com a cara assanhada e o cabelo amassado, ou vice-versa, atende:

- Lô

- Ai tiozinho, perdeu. Sequestramos a Janeth sua mulher.

- Rapaz então você ligou para o número errado, porque eu não conheço nenhuma com esse nome ai, minha esposa chama-se Fátima.

Gibraltar desliga o telefone na cara do sequestrador e vira para o outro lado. Dois minutos depois vira de lado de novo e pensa: “Ligação estranha, coitado da família dessa tal... Êpa, perai! – Gibraltar soergue-se na cama - Janeth é minha esposa, ai meu Deus do...” o telefone toca novamente:

- Olha aqui tiozinho, tá me tirando? Vou estourar os miolos da sua mulher. É o seguinte: Estamos aqui na praia do Leblon venha e traga o que tiver de dinheiro na sua casa.

- Calma, Calma, estou a caminho.

Gibraltar pegou seu salário que acabara de ganhar, tomou seu carro e foi em direção à zona sul. Tinha um longo caminho pela frente, pois morava na zona norte do Rio de Janeiro. Ao chegar ao bairro do Leblon enquanto procurava a rua que dava até a praia lembrou: “O Manoelzinho falou que a Fátima Bernardes morava por aqui, nessa próxima rua à direita... Aqui está, foi nesse prédio azul que ele disse”. Gibraltar parou o carro, colocou a cabeça para fora da janela do carro e olhou para cima. “O Manoelzinho deve estar certo, ele conhece tudo da vida dos famosos, foi graças a ele que eu consegui o autógrafo do Loco Abreu no shopping Igua... Oh minha nossa, a luz de um quarto acendeu, é ela! Só pode ser ela, sentiu minha presença, veio ver da janela, é hoje que nos encontramos. Aqui Fátima minha deusa, estou aqui”. Gibraltar ainda chegou a sussurrar:

- Estou aqui Fátima, desça! Venha ao meu encontro.

A luz do quarto se apaga e o vigia vem se aproximando. “Minha nossa vou sair daqui.” O apaixonado engata a marcha e sai vagarosamente. “O que estou fazendo?”. Gibraltar dá meia volta e retorna para casa, confuso. “Essa mulher está me deixando maluco”.

Moisés C. CouTo

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