segunda-feira, 2 de maio de 2011

TRONO

Meu nome é Dom Jaime III. O lugar que mais gosto é onde estou agora, meu trono! Só aqui sinto quem, verdadeiramente, sou: um rei. É desse trono que mando aumentar a colheita dos meus campos, diminuir a pesca de lagosta dos meus lagos para que elas possam se reproduzir. É do meu trono que mando vir os pretendentes da minha linda filha princesa. É daqui do meu trono que absolvo os que merecem e condeno os malfeitores que insistem em promover a desordem de meu reino. Henrique, ex Dom Henrique, sofreu em minhas mãos, além de ser enforcado foi apedrejado em praça pública, quem mandou desobedecer minhas ordens? Só no meu trono consigo sentir a realeza na qual gozo minha vida. Deleitosa sensação de alívio quando do meu trono vejo todo o meu reino funcionar sincronizadamente. Meu manto é tão leve que me dá a sensação de estar nu. Sublime sensação de conforto que só meu trono oferece. Porém, infelizmente chegou a hora. A hora que me levanto, dou descarga, saio, e toda a minha fantasia real vai embora junto com meus excrementos, água abaixo, como se eu não precisasse dela. Fora de meu trono sou apenas Jaime, e trabalho em uma multinacional...

- Jaime!

- Oi, senhor!

- O que você está escrevendo ai?

- Nada, são apenas reflexões que acabei de...

- Você não acha pouco ficar meia-hora no banheiro e depois não trabalhar porque está escrevendo reflexões?!

- É porque são para o meu livro, se não escrever agora acabo esquecendo.

- Você está maluco? Isso aqui é uma empresa e não um antro de vagabundagem!

- Sim, senhor!

- Deixe-me ler um pouco disso ai.

- Melhor não, senhor. Não vai querer perder seu tempo com bobagens.

- Ainda estou desfrutando dos meus três minutos de pausa para o café. Ainda há tempo.

- Não vai gostar de ler, são apenas imaginações surreais.

- Então trate de parar com imaginações imbecis e volte ao trabalho, Jaime!

- Sim, senhor Henrique.
Moisés CouTo

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